Há quem imagine que, apesar das mudanças anunciadas pelo iPad no mundo editorial e na maneira como se consome livros, publicações ilustradas, de artes e de design, teriam um tanto de sobrevida em relação às publicações puramente literárias, só de texto.
Não é esta a previsão que faz o brasileiro Julius Wiedemann, 36, há quase dez anos editor na prestigiosa Taschen, uma das maiores e mais importantes editoras do mundo quando o assunto são artes visuais.
Desde março, ele é diretor do recém-criado departamento de publicações digitais, um investimento da editora alemã para não perder o bonde rumo ao futuro dos livros.
Ele participa, nesta semana, da 1ª Mostra 3M de Arte Digital, que pretende explorar as tecnologias utilizadas para a construção da visualidade contemporânea (leia abaixo).
"O iPad é o que chamamos de tecnologia de ruptura", explica Wiedemann. "Com ele, o mercado editorial para livros ilustrados tem, pela primeira vez na história, uma plataforma que pode mudar tudo: da distribuição às bases de entendimento sobre o que é um livro", avalia. "Temos que esquecer o conceito que temos de livro, algo que tem 500 anos e está muito amadurecido. Estamos diante de novos desafios e de novas possibilidades."
O maior exemplo, segundo Wiedemann, são as mudanças que já ocorreram no mercado de revistas, que já sofreu impacto significativo com a concorrência entre assinaturas das revistas em papel diante das assinaturas on-line. "Hoje, eu posso comprar a Vogue russa de qualquer lugar do mundo, via iPad. No mercado de livros, a própria ideia de uma editora se torna quase desnecessária, já que a comunicação entre o escritor e o leitor pode ser direta", diz.
Para ele, apesar de o formato digital escolhido como padrão pelo mercado, o ePUB, ser limitado, essa é uma tendência de curto prazo. "O ePUB é o mp3 dos livros: um formato muito simples, pobre para imagens", diz.
O diretor de publicações digitais da Taschen acredita que os livros digitais de artes visuais serão baseados, não em páginas interativas, mas em bancos de dados de informações. Exemplo: um livro digital de Pablo Picasso permitiria ao leitor organizar a maneira como ele quer ver aquele conteúdo. Ele poderia selecionar ver as obras de Picasso por ordem cronológica, ou apenas as obras feitas em preto e branco, ou aquelas que tenham a cor laranja, e assim por diante. "Isso é uma mudança de mentalidade muito grande. Antes, o editor de uma publicação desenhava como seria aquela experiência para o leitor. Com a publicação digital, ele pode até sugerir uma maneira de olhar aquele conteúdo, mas haverá abertura para muitas outras possibilidades."
ARTE DIGITAL
Wiedemann foi editor da Taschen para cultura pop, games, internet, design e publicidade. Costuma abrir suas palestras dando um Google no termo "digital art". O resultado? Nada menos que 182 milhões de imagens.
"O que está ali é quase que o inconsciente coletivo do que é arte digital. E esse universo é tão interessante quanto aquilo que é de fato reconhecido como arte digital", diz ele. Para ele, a arte é tradicionalmente valorizada nos meios físicos, e a transferência dessa ideia para algo virtual ainda deve demorar um pouco para ser assimilada, reconhecida e valorizada.
A Mostra 3M de Arte Digital apresenta trabalhos de dez artistas que tem o computador como plataforma para sua arte. Participam da mostra a ilustradora norte-americana Molly Crabapple, o autor de webcomics Dan Goldman, os coletivos Animatório e Nitroglicerina, entre outros. Todos os artistas participarão de palestras abertas ao público e gratuitas.
A mostra acontece no Centro Histórico Mackenzie (rua Itambé, 45, prédio 1, São Paulo, tel. 0/xx/11/2114-8661) até 2 de outubro. De segunda a sexta, das 9h às 19h. Informações no site do evento.
FONTE: FOLHA ONLINE(FERNANDA MENA - EDITORA DO FOLHATEEN)